24 de julho de 2011

Medo!

Naquele dia ela teve uma tarde bem agitada e fora dormir depois de algumas discussões e se culpando de simplesmente existir ela se esmagava por dentro. Mas talvez ela não estava se esmagando por dentro e sim sendo esmagada, sua culpa imaginária era tão grande que ela achava que o que estava acontecendo ela mesmo havia provocado.
Colou a cabeça entre os dois travesseiros e tentou dormir se cobrindo com vários cobertores como se ela quisesse se esconder. Tentou dormir mas estava agitada e rolava de um lado para o outro, até que enfim ela pegou no sono. Seu sono não era profundo e não passava de uma soneca, ela não pregava os olhos de jeito algum, dormindo apenas pequenas sonecas. Quando o cansaço não dava mais ela pegou no sono mas já eram quase quatro da madrugada ela não tinha muito tempo para dormir.Em seu sono profundo pelo cansaço ela sonhou, se é que se podia dizer que aquilo eram sonhos. Foram três:
 No primeiro sonhou que estava em uma floresta linda e que apesar de um corpo mais juvenil ela se sentia completamente uma criança naquele sonho. ela conversava com um Rouxinol, ele cantava seu melhor canto e o mais magnifico de todos enquanto ela só conseguia olhar pasma e admirada para aquele pássaro perfeito. Rouxinol lhe dizia coisas lindas e ela só conseguia concordar com ele sem ao menos uma palavra. A floresta era magnifica e cheia de brilho tinha um verde de ser contemplado parecido com o verde das esmeraldas com algumas diferenças, era um verde mais bonito de se olhar, mais ofuscante, mais magnifico, mais iluminado e mil vezes mais agradável. Mas aquele pequenino Rouxinol não ficava escondido por trás daquela beleza esplêndida da floresta, ele era de uma cor graciosa como a Ametista e brilhante como o dourado do melhor Ouro, sim ela estava vendo a melhor das cores a mistura da Ametista com Ouro e o reluzente através da lua refletido na Prata. Aquele Rouxinol em que ela se apaixonou parecia ser maior que uma criança, talvez maior que ela, não um simples pássaro, ela não via a forma apenas a cor e não podia imaginar o rosto era esplêndido demais era surreal.
Depois daquele sonho ela acordou mais calma porém um pouco assustada com aquela beleza, talvez assustada demais, sua respiração era completamente irregular e ela já não conseguia pensar nada até que depois de alguns minutos talvez segundos ela voltou a dormir e sonhou novamente.
Aquele segundo sonho era atordoante ao mesmo tempo inocente demais como a inocência de crianças. Sim crianças haviam muitas e ela sorria alegremente, sorria de verdade com as lembranças do Rouxinol. Parou para refletir e de repente acordou do seu pensamento e olhou ao redor. Ela estava no meio de uma enorme cama elástica cercada por crianças, algumas estavam conversando com ela e de repente ela já estava em outro lugar. Um lago de pedras cercado por uma floresta era um lugar amplo e todas as suas coisas estavam em uma mochila preta acima de onde a água alcançava. De repente ela tentou sair mas se sentia sufocada demais. A água estava agitada e começava a subir ate encostar na sua mochila e varias pessoas entravam eufóricas roubando-lhe a paz naquele lago e como na velocidade da luz ela retornou ao episódio da grande cama elástica. Eufóricas como as pessoas do lago as crianças começaram a gritar e a pular jogando-a de uma lado a outro na cama elástica, ela estava agonizada. Será que roubara o sonho de alguma outra pessoa ou havia sido roubada do seu sono calmo? Ela não sabia mas logo acordou sufocando um grito e um soluço e as lágrimas rolaram, duas brilhantes lágrimas e ela não sabia porque, mas pregou os olhos vencida novamente pelo cansaço físico e talvez mental demais para ser físico na verdade e desta vez não sonhou imediatamente demorou mas foram apenas alguns segundos.
Naquele seu ultimo sonho pesadelo ela estava completando quinze anos e acabará de chegar do colégio mas não fora para casa. Ela estava em um lugar familiar porém desconhecido, e todas aquelas pessoas eram familiares mas nenhuma da sua idade. Estavam sentadas em cadeiras de bar com o nome grafado e desbotado de algumas cervejas, as mesas também eram de bar, mas não tinham nomes estavam bem enferrujadas e velhas. De repente aquelas pessoas familiares - porém nenhuma era um amigo ou amiga - se levantaram a encarando e cantando os seus parabéns e mais uma vez ela reprimia um soluço e tentava conter as lágrimas - que eram reais mas também estavam presentes naquele pesadelo. Ela observava tudo com uma esperança desnecessária pois não havia nada mais que alguns salgadinhos e refrigerantes de marca barata, e isso era notável. Sua mãe estava com um grande sorriso que alcançava as suas orelhas e seu pai estava com uma carranca desconcertante. A mãe lhe deu um longo abraço seguido de alguns tapinhas nas costas que recebeu do pai, sua mãe lhe entregou um pacote e ordenou que ela vestisse o que estava dentro. A pobre garota seguiu até o banheiro observando os convidados, ela notara que apesar de tudo eles não se importavam com a marca barata e davam gargalhadas frequentemente, ela então se perguntou se as pessoas estavam rindo dela ou para ela e não soube responder. Ao tirar a roupa do embrulho notou que era um vestido de cor branca meio apagado muito longo como um vestido de noiva - vestidos de noiva, ela se lembrou que tinha pavor destes e parou de pensar para reprimir mais algumas lágrimas e soluços - sem pressa vestiu-o e ao olhar no espelho sentiu vergonha, quanto ela havia engordado naquele mês? O vestido marcava seu corpo tinha brilho demais - ou talvez lágrimas demais nos seus olhos - ela não queria usar mas também não queria decepcionar, tratou de secar seus olhos e saiu. Sentou-se em um banco perto de seu pai apenas pensando no que ela estava vivendo agora, um pesadelo aos quinze anos. Algo interrompeu seu pensamento, vários homens todos uniformizados entraram e trataram de tirar tudo o que havia naquele salão e então alguém perguntou o que estava acontecendo. Sim era o fim do pesadelo talvez algo pior "morte emocional?" ela estava abalada demais para pensar. Os homens trataram de começar a tirar tudo dizendo apenas que o local não fora alugado e que haveria uma festa ali naquele momento e eles precisavam aprontar o local o mais rápido possível. 
A garota acordou aos prantos e logo se lembrou que seus pais estavam dormindo no seus quarto e não queria dizer o motivo de tantos soluços e lágrimas. Se levantou calmamente fingindo que havia acordado alérgica, deu um soco em seu próprio nariz e começou a espirrar, correu ate o banheiro e enfiou a cara na toalha chorando tentando fazer o menor barulho possível, voltou para a cama e enterrou a cabeça no travesseiro, não conseguia parar de chorar aquela cena se repetiu varias vezes ate que o dia ficou claro e ela então se levantou ainda meio atordoada. Depois do café da manhã voltou para o quarto sentou-se em sua cama e chorou, chorou e chorou ela não queria um aniversário como aquele era humilhantes, antes se não tivesse não queria passar por aquilo. Se recordou que odiava festas e que havia pedido para sua mãe uma viagem de quinze anos e não uma festa. Será que ela odiava mesmo festas ou tinha Medo delas? Ela se perguntou e ao longo do dia refletiu sobre toda a sua vida sempre reprimindo lágrimas e soluços. Ela não odiava festas, saias, coisas claras demais, lugares fechados e tumultuados, e etc. NÃO ela não era o tipo de pessoa que simplesmente não gostava de algo sem motivos, ela percebeu que tinha MEDO. MEDO de festas, MEDO de lugares tumultuados, MEDO das pessoas da escola... MEDO de viver? Será que era isso então? Lembrou-se que na noite anterior seu pai havia chamado-a de parasita. Ela se sentia uma parasita, como se sugasse tudo de alguém, se sentia impotente e chorou, e então teve MEDO de dormir novamente. Ela era realmente uma parasita por não fazer nada mais que chorar? Isso era ridículo, ela se sentia ridícula e impotente e covarde por ter medo do que ela realmente era, por ter medo de não saber o que era e o que aconteceria. Sim o medo agora a corroía, seu coração estava partido pelo medo como doía querer viver e ter uma barreira para impedir. A barreira era o muro de segurança que ela mesmo construiu, era o que a impedia de viver por não ter coragem de receber um não. Suposta segurança mas não proteção, ela não podia se guardar dela mesmo! Esse era o medo de ter escolhas demais e não saber o que decidir.