1 de fevereiro de 2014

Sem barreiras


Ele pintava aquele rosto com a maior das delicadezas. Fitava o papel como se houvesse algo além daqueles traços perfeitos. Suspirou, um suspiro profundo, logo faltou lhe o ar que foi recoberto por uma única lágrima que rodopiou em sua face branca. Aqueles traços perfeitos, como queria que eles estivessem presentes agora, tomou uma xícara nas mãos e levou a até a boca, deixou apenas que tocasse seus lábios não se permitiu tomar nem sequer um gole daquele liquido preto que lembrava apenas o calor que ela um dia transmitira a ele. Tudo fazia o lembrar se dela, a seda das suas camisas finas lembram o toque daquelas mãos delicadas que um dia ele aqueceu, a lua lembrava lhe o brilho daquele olhar singelo que por tantas vezes fitou o com amor, as rosas lembram o cheiro daquela pele macia que por tantas vezes o aqueceu, as margaridas lembravam agora mais do que nunca a palidez que ele vira na véspera.
Sua pequena, a eterna pequena dele havia partido e deixou nele lembranças, a maioria boas, então lembrou se de como seria legal se eles tivessem filhos, se culpou por ser estéril. Mas Deus sabe o que faz, com tanto amor que ele a amara seria um castigo ver os mesmos genes daquela ternura vivos e pior com a mesma dor que ele sentia, a dor da perda. Seria ainda mais doloroso se ele visse sua filha ou filho com um olhar triste, então lembrou se do olhar triste dela quando o médico deu a sentença da esterilidade. Aquele olhar triste que consolou o muitas vezes, apesar de ser o mais abalado, lembrou se de como ela queria ser mãe. Para vê - la feliz ele seria capaz de qualquer coisa. Mas agora já não era mais possível, ela partira para sempre. Ela partira, mas ali continuara sua essência, a essência que ela sempre transmitira, a de um amor simplesmente sem barreira. Um amor que excede os limites da vida. Tentou lembrar - se apenas dos momentos felizes que tiveram e ficou contente por terem sido maioria. O que aconteceria com ele, ele não sabia mas jurou a si mesmo que nunca deixaria que ela morresse dentro de si. Viveria como ela gostaria que ele vivesse, mesmo que isso doesse muito. Em memória do amor de sua vida, amaria sem barreiras e faria tudo para ajudar as pessoas com toda a bondade que era dela. Faria de sua amada seu espelho, tentaria ser feliz e fazer as pessoas felizes através de sua arte. A arte sem barreira através de um amor sem limites.