23 de agosto de 2014

Um saculejo, um ensejo

Saculejo. Saculejar é preciso. Saculejo já me faz rir. Saculejar é neologismo. Faz me rir. Saculejar é pretexto pra prosa solta e verso. E verbo me falta onde a timidez alcança. E saculeja tudo em mim e meu peito palpita de prosa e pranto. Planto poesias sem fim no eterno saculejo da vida. Sorrio e tudo se remexe em mim. A vida, esse eterno saculejo. Saculejo não existe. Saculejar é preciso. Saculejo é balanço doido, é erro de português mas quem verdadeiramente é errado é quem fala correto e não vive o que diz. Que saculeje sua vida então. Meu peito palpita de prosa e pranto e dói. Dor palpitando, ansiosa chegada esperada partida. E partilho em silêncio os saculejos da vida. Anseio um abraço mas o medo do laço é que me faz continuar no estado de inércia, o qual todo ser no mundo tende a ficar. Mas saculejar é próprio, é anseio e movimento. Partilho a partida e me dói deixar um pouco de mim. Mas rever é feliz, feliz estou por rever uma amiga de ônibus. Ela me abraça e relembro e já não sinto falta de um abraço. Ou sinto e minto. A vida é isso mesmo. Um eterno saculejo, um sorriso e um azulejo, uns quadradinhos de histórias e estórias. É em si o infinito neologismo. 
5 de agosto de 2014

Se algum dia vier a me encontrar

Caro leitor, não quero cansa-lo com um texto enfadonho. Peço-lhe que se não tiveres paciência de ler-me busque algo mais produtivo. São exatamente 5 e 17 da madrugada de um agosto não muito quente. Venho desabafar neste jardim quase deserto as divagações da minha mente. Quero aqui falar dos amigos que nunca tive, dos que tive e dos que quisera ter, dos que tento ter. Mas os que tenho não farão muita parte deste texto. Pois se já os tenho não há muito o que dizer que caiba em um texto de madrugada.
Quantas pessoas passam por nossas vidas? Dá para contar? Lembro me bem da aflição do primeiro dia de aula no Colégio Militar, não, não era aflição. Era uma ansiedade tola que se me lembro bem não tive medo. Mas eu não estava sozinha, uma colega do antigo colégio também estava lá. Não éramos bem amigas mas conhecíamos uma a outra desde a alfabetização. Isso bastava, um rosto conhecido reconforta. Mas o que fazemos hoje com os rostos conhecidos? Não lembro de ter tido muitos amigos no primeiro ano naquele Colégio. Nunca fui lá muito boa em comunicar me dialogalmente.
E às vezes "a gente se pergunta porque é que não se junta tudo numa coisa só". Fui feliz, fui triste, tive problemas e soluções. Poucas coisas me recordo dos tantos anos que estudei naquele Colégio. Não sou de sentir saudade mesmo estando já há quase um ano sem lá pisar ou rever os velhos amigos. Espero que minha memória não apague as coisas ruins que me aconteceram para que possa servir de exemplo para os filhos que eu vier a ter. Que não apague as boas lembranças pois delas vem a felicidade mais nostálgica.
E as faces com as quais convivi por anos? Alguns morrem, outros entram por caminhos obscuros e ninguém imaginava que aquele pacato hoje seria quiçá um grande estudioso da física, na medicina, das letras. São pessoas que fizeram parte das nossas vidas. E o que fazemos com elas? É certo que a distância, a mudança de rotina e de realidade afasta. Mas a vontade que tenho é de abraçar todos que da minha vida parte fizeram.
Não guardo mágoa daquele garoto que fazia bullying comigo e mais tarde ele confessou me que era apaixonado por mim desde muito tempo. Sim, ele me fez sofrer. Mas o que posso dar a ele? Ah, e aquela garota fotografa? Quem diria, para mim ela jamais seria uma amante das artes. Aquela mesma que era minha amiga confidencial e anos mais tarde me empurrou dentro do ônibus.
Tive tantos bons momentos dos quais lembro-me de poucos. Minha memória me trai. Parece que ela está regulada para lembrar de nostalgias tristes. Não quero mais isso leitor. Se você sabe como fugir. Como me achar em uma foto velha daquele nosso trabalho de dança. Encontre me e saiba que eu agradeço de coração por você ter existido na minha vida. Porque a vida é feita desses clichês, dessas coisas que a gente julga inútil. A vida é feita de momentos e os sorrisos. Ah, os sorrisos! São as pequenas dádivas de Deus a nós todos os dias, presenteando nos com a presença de alguém que talvez nem vá se lembrar do seu nome num futuro distante.
Dos amigos que tive carrego grande admiração, por todos. Grande curiosidade pela maioria. Os que tento resguardar com dificuldade creio que se tornaram os melhores de toda a minha vida, ou os mais presentes. Afinal, quando é difícil demais conseguir uma coisa não se desiste fácil dela quando se tem. Aquela garota ou garoto que eu admirava e nunca tive coragem de falar um 'oi' por uma timidez boba, não faz mal. Talvez eu nunca mais os vejo e se os vir não venham a passar de desconhecidos ou talvez futuros amigos.
Contudo, se você chegou aqui até o final deste texto da minha divagação de terça-feira feira, obrigada! Quero parabeniza lo por tamanha determinação. Eu daria a ti um grande abraço se pudesse, e se puder me cobre o abraço. Claro, se você gostar de abraços. Essas lembranças vagas nos pegam assim tão de surpresa, mas a verdade é que elas estão sempre ali prontas a martelar nossas cabeças sem mais nem menos. Talvez de bonito ou proveitoso este texto contenha apenas uma frase. Mas se você leu e me conhece e se me vir passar na rua e lembrar se do meu nome diga algo ou simplesmente sorria. Se me encontrar em um ponto de ônibus faça me companhia, converse comigo, convide me para ir ao cinema. Mesmo que eu não possa aceitar o convite ou que eu não cumpra quando te prometi que diria oi no chat do facebook. Ultimamente ando odiando essas redes. São úteis para aproximar os amigos que moram a longas distâncias mas muitas vezes deixam enfadonho como este texto aquela conversa que talvez teríamos em meio a risadas no caminho de ônibus para tua casa.
Não faz mal que não lembre o nome ou a ocasião de quando conheceu se determinada pessoa mas há valor em tudo, em cada perfume que passou na nossa vida. As pessoas são mesmo como plantas, deixam suas lembranças em nós, seu perfume, sua semente. São um jardim particular de Deus. São partes repartidas, separadas mas nunca isoladas. São parte das memórias que temos dos nossos dias. São apenas pessoas, singulares no plural mas que são capazes de deixar um pouquinho de si nas outras concluindo que ninguém vive sozinho quando se tem vontade de viver e não apenas existir. Agradeço a presença dos perfumes que vieram a florear minha vida pois é deles que tiro inspirações de ser melhor a cada vivência.
Se um dia vier a me encontrar seja um clichê barato, faça me rir, deixe uma memória em mim. Um abraço que seja. Uma demonstração de que eu existi.