14 de dezembro de 2013

A menina dos olhos cansados


Andava com tanta tralha que ninguém se oferecia para ajudar a carregar por medo de não conseguir. A menina dos olhos castanhos tinha por volta de seus 17 anos. Tão despreocupada, sem neurose por beleza não se importava em manter os cabelos penteados. Tão tímida essa garota me intrigava diariamente. Eu nunca fui do tipo de garoto que repara em meninas tímidas. Aliás as tímidas nunca fizeram meu tipo mas havia algo que me chamava atenção na garota dos olhos cansados. Passei a repará – la todos os dias no intervalo. Ela sempre estava sozinha mas isso não significava que ela não tinha amigos. A garota sentava – se todos os dias em um banco pintado de azul no patio arregaçava as mangas do agasalho e ficava encarando o nada com fones de ouvido e as vezes um livro ou um caderno nas mãos. O sol em seu rosto todas as manhãs parecia essencial para aquela garota. Ah, quando chovia ela sentava – se na arquibancada da quadra poliesportiva e continuava fitando o nada que agora era chuva. Se algum de seus colegas chegasse e sentasse junto a ela no banco ela dava uma atenção que me intrigava mais ainda. Mostrava total interesse no assunto e quando a companhia ia embora ela voltava a fitar o vento. Eu também nunca fui do tipo de garoto que tem um lugar para ficar, sempre estava por aí andando e conversando com pessoas menos interessantes que a garota do banco azul. Eu nunca deixei de repará – la desde o dia que percebi que ela sempre estava ali, ao menos por um minuto eu teria que passar perto e repará – la, mas nunca deixei que nenhum dos meus amigos percebesse que eu olhava para ela todos os dias. Os meses se passavam e ver aquela garota era essencial para mim. Não sei que doença foi essa que meu cérebro desenvolveu que se eu não a visse passava o dia desanimado. Acho que já estava ficando louco ou neurótico. Que estupidez a minha, eu nunca fui um cara tímido podia muito bem chegar nela dizer um “oi” e perguntar seu nome. Geralmente não era necessário perguntar o nome das pessoas no meu colégio pois as camisetas tinham o nome bordado. O que me intrigava mais ainda, fazendo frio ou calor a garota sempre estava de agasalho.
Passaram – se seis meses e a garota continuava ali com sua mesmice. Eu sempre notava algo diferente quando havia, como aquela corrente que ela apareceu usando em uma segunda-feira. Outro dia notei que ela estava usando óculos, achei que ela ficou bonita usando óculos. Mas foi só por alguns dias porque depois acho que ela começou a usar lente de contato pois nunca mais a vi usando óculos. Em uma quarta – feira esqueci de disfarçar e me perdi nos olhos cor de mel da garota. De repente a garota sem nome encontrou meu olhar no dela e sua reação foi perturbadora. Ela levantou – se rapidamente e vi suas bochechas enrubescerem em um rosado tão angelical que me fez sonhar à noite. Sonho perturbador, por que eu não conseguia parar de reparar aquela garota? Por que eu não tinha coragem de dizer um “oi”? Eu nunca fui um cara tímido. Depois desse episódio não vi a garota por quase um mês. Senti uma preocupação arrasadora por àquela desconhecida. Resolvi contar tudo a minha melhor amiga que era meio metida a psicologa, uma maluca completa na verdade. Minha amiga disse que eu sofria de amor platônico. No começo eu não quis aceitar mas depois de algumas pesquisas pela internet aceitei o que eu sentia por ela. Uma loucura, geralmente são garotas que se apaixonam platonicamente.
Em uma tarde de sexta – feira, dia de aula no auditório deitei – me no chão próximo à porta e fiquei pensando em formas de atrair a garota até mim. Quando virei para ver o movimento no pátio dei com o olhar na garota que estava sentada de frente para mim. Levei um susto e percebi um meio sorriso naquele rosto de olhar cansado. A cada dia cada vez mais linda e seu olhar cada vez mais cansado e distante.
Resolvi colocar minha melhor amiga em ação. Pedi a ela para procurar a garota e tentar aproximar – se dela. No começo ela não aceitou a ideia mas depois lembrei – a que ela só tinha passado em matemática porque a ajudei. Foi tão inútil a ajuda da minha amiga. A garota dos olhos cansados tão indecifrável ignorou minha melhor amiga totalmente todas as vezes que ela tentou se aproximar. Eu estava cada vez mais triste por não conseguir me aproximar da garota e tentava tapar o sol com a peneira beijando todas as moças que quisessem um beijo meu. Estupidez a minha, não dava para trocar sorvete por jiló. Que comparação idiota, uma moça tão perturbadora e intrigante com toda certeza era melhor que minha sobremesa favorita.
Em uma terça-feira de inverno chequei meu e-mail para ver se havia algo novo sobre o jogo que eu jogava. Havia um e-mail anônimo, achei estranho por não estar no lixo eletrônico pois geralmente e-mail anônimos são spans. Lá estava a coisa mais inesperada da minha vida. Um e-mail da garota dos olhos cansados.

Não que eu não ache você interessante, mas é só que eu não estou interessada em conhecer você. Não quero que saiba meu nome nem mande sua amiga bisbilhotar minha vida. Eu sei que você me vigia e procura a cada intervalo uma chance de falar comigo. Não sei qual o seu problema, pois há tantas garotas interessantes e você perdendo seu tempo percebendo uma garota como eu. Não pense que foi sua melhor amiga que mandou esse e-mail para você parar de ficar com essa neurose e nem queira saber como eu descobri seu e-mail. Só digo que foi muito difícil. Talvez nunca mais você me veja, pois mudarei de cidade esse fim de semana. Um até logo! De A...

Droga ! Como ela pode fazer isso comigo ? Está tão na cara que eu reparo nela todos os dias ? Lembrei – me da voz de minha amiga “todos os dias você está com mais cara de retardado que no dia anterior reparando essa garota, todo mundo já percebeu mas ninguém tem coragem de se meter com você por causa da sua fama de ter batido naquele garoto que se meteu com meu irmão, sorte a sua porque até eu zoaria você em publico se não fosse constrangedor o bastante para você nunca mais falar comigo (risos)”

Realmente, nunca mais a vi mas aquela garota nunca saiu do meu pensamento. Aquele olhar cansado, talvez entristecido e muito indecifrável nunca saiu da minha memória. Espero um dia encontrá – la e amá – la como a amei tão desconhecidamente, como nunca amei ninguém. Um amor de alma, talvez muito mais verdadeiro do que platônico. Nunca entenderei aquele e-mail e nunca a entenderei, afinal é preciso conhecer muito mais que um olhar cansado para entender uma pessoa mas é preciso apenas ver com os olhos da alma para amá – la. Se A for a inicial do nome dela como suponho que seja, nada terá sido tão perfeito quando viver esse Amor desconhecido, sofredor mas valioso. 
2 de dezembro de 2013

Uma tarde de saudade


Saíra do apartamento andando sem rumo pelo corredor entre os prédios, fizera uma caminhada de uns 20 minutos que parecera uma vida inteira. Tentara ocupar o tempo ou distrair se com um jogo bobo no smartphone mas não conseguira, sentira um sentimento estranho que não lhe causara dor nenhuma. Sentimento que causara-lhe uma inundação de memórias.
Estivera com ele em um dos melhores dias de sua vida, fotografara em muitos lugares do condomínio, em locais que olhos comuns diriam ser horríveis e desajeitados, lembrara das poses que fizera e dos sorrisos que tirara dele naquela tarde nublada. Lembrara do olhar vivo dele e do batom que usara, aquele tom de vermelho tirara um "uau" da voz dele, lembrara do all star vermelho que usara naquela tarde, da camiseta do filme star wars e da saia cheia de estrelas como uma galáxia, sentira o perfume adocicado que usara naquela tarde.
Depois de sentir-se sentira o perfume dele e a doce melodia daquela voz que parecia cantar as mais belas notas já inventadas no universo. Lembara da roupa que ele vestira, àquela camiseta branca com estampa do disco The Wall da banda Pink Floyd que ele tanto gostava, aquela calça jeans sempre fora apenas uma calça mas naquele dia nublado era a calça mais bela que já vira. Sentira o abraço quente e desajeitado dele, sorrira. Sentiu-se confortável com o calor dele fizera um pouco de frio naquela tarde mas nada de pedisse um agasalho para cobrir sua linda camiseta.
Recordara-se de gravar uma playlist idêntica à sua no iphone dele e sair cantarolando as músicas juntos e dando gargalhadas e às vezes sorrisos envergonhados quando a letra tocava os sentimentos. Sentiu o beijo quente dele e ...
Acordou do seu sonho, tudo aquilo havia acontecido mas agora ele estava longe demais para ficarem juntos. E ela era apenas uma garota dominada pelo cansaço dormindo no banco do pátio do condomínio. Triste ?! Não, ela estava muito feliz, estava feliz por reconhecer pelo menos na hora do adeus que ele realmente amara ela, estava feliz por reconhecer que apesar de nunca achar que era boa o bastante para o seu amigo. Deu a ele o que sempre quis. Um beijo! Arrependeu-se por deixar com ele um gosto maior de saudade e escreveu um e-mail :

O vento bate em meu rosto e ando na estrada vazia lembrando me de tantas coisas, de como foi estar aqui em outros dias de sol. Desculpe se perdi algumas memórias, sou uma caixinha de imperfeição como você sempre me dizia, sou a anormal e você o normal e é por isso que juntos somos perfeitos. Quero que saiba que sempre te amei mas sempre achei que você poderia encontrar um pessoa melhor que eu. Não sei se você voltará e pensando bem podemos prosseguir sem estarmos presencialmente juntos. Espero que seja feliz com seu pai na Alemanha e com sua faculdade. Sempre seremos amigos e me perdoe por nunca compreendê-lo ou acreditar no que você dizia. O tempo e as experiências nos faram amadurecer e logo logo você se lembrará de mim apenas como sua melhor amiga e não como alguém por quem você se apaixonou. Mande notícias. Um abraço, Aline.

Aquele e-mail cheio de poesia nunca fora enviado. Levantou-se do banco sentindo saudade e ficou feliz por perceber que quem tem saudade tem amor.


(Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, eu inventei tudinho.)  

Analogias (Parte 2)


Abalou. Tirou tudo de seu lugar. Como uma avalanche encheu-me de problemas, como enchem-se bolas de neve na junção de seus flocos. Encheu como são inundadas cidades em dias de enchente. Encheu-me, inundou-me, amou-me, ou tentou amar-me. Ou fingiu.
Súbitos tremores, como tremem os prédios e se despedaçam vítimas de um terremoto. Fui vítima, fui sua vítima e sentenciou-se um fim, o fim das minhas alegres emoções. Tomou-me e não deixou-me ir quando foi necessário. Deixou-me quando foi preciso ficar, em meio a soluços silenciosos que me deixavam trêmula e sem chão. Resguardei-me do mundo e me enchi de ti.
Não pude sentir... talvez tenha me amado tanto e tão profundamente, tão incondicionalmente, e perdida em meus erros não percebi. Nunca notei o quão alto as músicas tocavam no seu coração e eu presa no meu quarto frio não notei que o que afastava-me de ti era nada menos que eu.
Restou algo que não me abala, que deveria mas que fortalece. Os geisers de saudade que aparecem de tempo em tempo sob alguma pontada de sorriso envergonhado e que fazem-me recordar o clímax de nossa estória, àquele criado por mim. Criado em noites de nostalgia, clímax que nunca existiu. Um analogia sem fim de um cérebro cansado!


Oi galerinha, quanto tempo! Estou de volta relendo os textos guardados nos rascunhos e publicando alguns. Espero que gostem! Beijocas :*** Esse ficou bem pequeno mas como é uma serie terá a continuação. Aguardem!