29 de dezembro de 2014

Desnuda


Hoje eu li, li tanta coisa. Repensei, por quê? Alguém me leria ? Quero (te) desvendar e me apaixonar por algo que seja mais real do que as minhas vivências passadas. Quero sair desse confinamento literal, moral, psicológico. Adeus mundo! Não caibo mais em mim. Já não caibo em mais nada. Fujo de mim do clarear do dia ao anoitecer. Cerro os dentes para não chorar e deixo as poucas lágrimas adentrarem novamente. Relutantes, não caiam, fiquem aí paradas. Vocês que fazem parte de mim não podem sair sem pedir permissão. Não me traiam, não me justifiquem, não me comprometam, não me mostrem a outros olhos. Não revelem a minha nudez. Não! Elas se foram, pobres lastimas, poucas lágrimas. Lateja em mim sempre o pensamento de viver. O de morrer se foi com o tempo porque morrer significa perder as esperanças. Não sofri esse tempo todo para desesperançar. O tempo que precisar esperarei para espalhar todo eu que já não cabe mais no meu peito. Deleito me em fazer da minha sina de viver uma incompleta rima ficcional. Está difícil vomitar as palavras, todo meu confinamento se acostumou com tão pouco espaço que agora tem medo da luz do sol. Sai daí, menina! Algum encorajamento ? Seria clichê dizer que anseio por pessoas que não usem o que eu disse contra mim? Precisamos mesmo é dos clichês e eu admito que anseio. Anseio por olhares e atenção que não seja direcionada a mim por pena mas porque é agradável estar comigo. Mas se eu não for agradável ? Tantas dúvidas, cruéis. Como espadas de dois gumes cortam os dois lados do meu ser, alma e pensamento. Por que fiz um juramento a qual nem mesmo acreditei ? Se eu desesperançar, não me deixe partir. Faça me sorrir e me lembre que enquanto eu existir minha sina será me apaixonar pelo que deveria ser e espalhar esse dom de palavrear pelo mundo. Talvez algum moribundo resista ao assistir minha conquista e se inspire a viver. Justo eu das pensantes a mais moribunda, morrendo pelo mundo sem antes pedir perdão. Tudo que eu mais quereria é um peito aberto para eu adentrar, me esconder, me afogar. Um peito que dissesse para eu ficar que comigo lá dentro o mundo é menos vazio. E mesmo que fizesse 40 graus na sombra eu quereria para sempre o eterno calor do amar. Os "porquês" seriam vagos se não houvessem mais respostas cabíveis. O desprezo amarga, mas este é assunto para outro texto, este foi devaneio vívido e real por ter lido a mim por ter lido (você) o mundo. Por amar o desconhecido, por poemar, por po(amar)-te e trazer (te) até a poesia de meu ser.      
28 de dezembro de 2014

Maria do mato

Quando fui ao Mato Grosso conheci coisas que nunca tinha visto antes. Hospedei me numa cidadezinha chamada Novo Paraíso que de paraíso só tinha o nome. Adentrando nas redondezas da cidadela visitei uma tia avó que mora numa tapera bem simples. Nunca vi tantos filhos juntos numa só casinha. Umas cem pessoas de filhos e netos à agregados.

Zé é um moço de seus 20 anos que parece ter trinta e poucos, não tem todos os dentes na boca e sua pele é queimada do sol. Ele é casado com Maria que tem 15 anos. 15 anos Maria ? Quinze anos tinha eu quando conheci Maria, casou se aos 13 anos. Mamãe gosta de fotografar e logo quis fotos de todo o mato do Mato Grosso e dos que ali habitam. Maria é como eu não gosta de foto, eu corri mas logo me convenceram e tirar foto com eles. Maria virou as costas ficou emburrada e chorou. Ô Maria, não fica assim. É só uma foto, com fash mas não arranca pedaço.

Ô Maria tão boba, Maria forte e trabalhadeira. Maria que carrega bacia pra buscar água na bica que já sabe fazer remédio com casca de pau e que quer ter um filho pra cuidar. Ô Maria, eu que nem sou branca fico feito neve perto de ti. As meninas do Mato tão fortes perto de mim, apesar de serem franzinas são bem mais fortes que a gorducha branca da cidade e olha que nem sou branca eu só não pego sol.

Tantas Marias pelo Brasil, conheci Maria do mato, parecia bicho que se enconde e nós não somos todos bichos assim como ela ? Todos temos um quê a esconder, uma vergonha e uma falta de costume. Ô Maria seja forte seja bicho seja do mato e mata essa pobreza, corre atrás do que der e viva como quiser. Maria negligenciada tão nova já casada. Sua infância foi roubada pela desesperança do mato que mata todo sertanejo de sol, de fome, de sede, de doença, de chuva que acaba com a roça, de esquecimento.

Marias tão esquecidas, fortes na convalescença. Marias do Brasil, casados com Zés, Antônios, Raimundos e pelo mundo nunca são lembrados são negligenciados sem cuidados. Maria, não sei porque lembrei de ti mas vou colocar você em minhas preces quem sabe Deus te conceda alegria apesar das desigualdades. Cada um tem motivo pra sofrer e sorrir, pobreza não é defeito. Sou tão suspeita pra falar de ti. Fica no teu paraíso que eu de longe lembro que Maria é bicho e toda pessoa também é Maria. Do mato mata as desesperanças e lança no mundo a luz de existir feito água que cai da bica e traz barulho na mata do silêncio de cada coração que pulsa. Ô Maria não chora, ri que o coração melhora e o mundo fica mais colorido, agradece a Deus pela natureza que todo ser tem algo de falido. 
23 de dezembro de 2014

Das divagações cotidianas: emancipação

Uma tarde de quinta-feira como todas as tardes normais de quinta saí de casa e fui a pé até a sala da psicóloga. Sentei me no banco para esperar que ela abrisse o consultório e me recebesse com aquele sorriso enorme que não sai daquela face. Pela primeira vez de todas as sessões não me atrasei. Fiquei ali a encarar aquela porta verde claro com o número dezoito preso nela. Dezoito poderia ser apenas mais um número qualquer mas é o número da minha próxima idade. Daqui a alguns meses terei 18 anos de idade. Dezoito, o número da emancipação. Pelo menos a emancipação formal no meu país. Será que muita coisa vai mudar ? Ou assim como no consultório 18 seria apenas um número ? Com certeza terei mais direitos e deveres legais. Entretanto 18 será minha emancipação apenas se eu aprender nesses 5 meses até a chegada da data a lidar comigo e saber decidir minha vida sem a ajuda dos meus pais. Provavelmente não serei emancipada aos 18 mas nem é isso que eu quero contar a você neste texto. Caro leitor, perdoe me a divagação mas é assim que meu cérebro funciona. Um emaranhado de coisas que aparecem na hora errada e saltam pelos olhos, saem gritados pelo meu silêncio. A vida não está fácil para mim. Sei que para muita gente está pior mas isso não consola a mim. Uma das minhas utopias é a de que as coisas deveriam estar nos seus lugares. Ninguém deveria passar fome, frio, sede, amor. Ah , o amor. Este é a junção metafórica da fome, do frio, da sede. E a saudade é o prato de entrada. E quem sofre de amor não tem sobremesa. Engano meu pensar que o amor era só uma história que me contavam para eu dormir. O amor tira o sono, o sorriso. Mas não falo de qualquer amor. Falo aqui do amor não correspondido. A fome do ser amado, a sede de uma água proibida ou inalcançável, o frio da ausência dos braços quentes da companhia. O frio do coração vazio. A saudade do alento perdido. E a gente sempre imagina que a sorte virá num realejo. Tenho 10 minutos a menos de divagação porque perdi o horário e me atrasei para a sessão. Não consigo cumprir horários, foi no meu atraso que perdi um amor, mas não passei fome, nem sede, frio talvez. A sorte não me apareceu como um realejo. Meu doce alento continua perdido. Contudo aprendi que eu me atrasei mas que agora acertei o relógio e descobri que não tenho tempo para um amor não correspondido. Não me submeto a perder horas de sono por ninguém (amores). Estou emancipada de você, meu bem. Ainda comerei o prato frio da saudade, mas estou saciada. Cheia de você. 
20 de dezembro de 2014

Entre Aspas: A Sorte

para o rico, enriquecer mais
Para o pobre, se tornar rico

Para o que tem fome, se alimentar 
Para o que tem sede, saciar-se 
Para o doente, curar-se 
Para o musico, ter sucesso
Para o jogador, fazer um gol
Para o cozinheiro, receber uma ótima critica 
Para o apaixonado, a sorte vai além
Ele precisa ter sorte de Enriquecer mais seu coração com doses de Alegria
Ter a sorte de se tonar rico de afeto
Ter a sorte de se alimentar da paixão de sua amada 
Ter a sorte de saciar sua sede de prazer
Ter a sorte de curar-se de um antigo amor e embarcar num novo
Ter a sorte de a cada dia sentir a emoção de um gol em um beijo 
Ter a sorte de que quem o ver poder querer fazer o mesmo que ele, como faz um critico ao cozinheiro
Mas o apaixonado só quer ter uma sorte
A sorte de nunca mais precisar de sorte pra encontrar alguém que lhe dê tanta sorte.


Autor: Nathan Ribeiro (https://www.facebook.com/nathan.ribeiro.7)


Na tag "Entre Aspas" estão textos de autorias diversas que não são meus. Coloco nessa tag tudo que eu gostaria que vocês lessem e os textos que guardo com carinho. Espero que gostem!
13 de dezembro de 2014

Mar em pingo d'água


Prendi meu cabelo com um laço porque ele não se comporta bem perto de você. Tende a se esvoaçar a perder o controle, a se comportar mal, a desatinar. E ao acaso tenho coragem de estar perto de você, de soltar minhas ligas, desatinada por completo. Mas você cometeu um erro, meu bem. Deixou que tudo fosse ao meu modo, me deixou assim livre, solta e sem quadros. E eu nunca estive assim, sempre precisei das limitações, das regras. Mas você me deu espaço. Um espaço que eu não soube usar, que me deixou mais constrangida do que à vontade. Eu nem sequer tinha expectativas e só soube ser solta para você me ensinar a dançar descalça. Eu não soube rodopiar sem as sapatilhas que limitam o movimento dos meus pés. Não sei ser precisa na imprecisão. Desculpe, mas não aprendi a dançar na floresta do teu peito. Não aprendi a navegar no teu pensamento. Não aprendi a ser o brigadeiro da sua panela. Soltei meu cabelo pra você ver a imperfeição, aquele corte desalinhado combina com o desalinho dos nossos corações. Você derramou em mim cachoeira de mar enquanto eu fui apenas um pingo d'água e por dentro eu nem mesmo sabia o que estava fazendo, porque você fez tudo. Se derramou mais do que cabe em mim e eu sem saber o que fazer com tanta água fiquei muda. Não havia mais nenhuma palavra que não estivesse submersa no seu mar. Algumas começaram a boiar e aos soluços eu disse. Que infelicidade foi dizer, dizer coisas sem sentido que você nunca entenderia, mas eram as únicas coisas que ainda lutavam em não se afogar na superfície. O resto tinha decidido prender a respiração e se resguardar no fundo. Sua constância deixou me constrangida, você não se lembrou de me esquecer. Mas soube me prender na sua liberdade, uma prisão bem mais atuante que as regras impostas. Não soube ser livre, não aprendi a voar, meu balé precisa de sapatilhas, meu cabelo tem que estar preso. Minhas mãos frias combinam com a frieza do meu coração, não se espante se eu não me derramar (derramei, não amei). Não morra pela inanição do meu amor meu bem, ele precisa de uma jaula e de um vigia que observe que aos poucos ele pode se mostrar. Perdoe -me por não aprender a ser mar (e a te amar como você queria), por enquanto sou apenas pingo d'água e medo de você se aproximar.     
18 de novembro de 2014

Inesgotável

Os muros e grades ao meu redor
Livre a liberdade
Solta como o vento
Mal entendida
Ressoa em gritos sob as grades
Os muros impedem
O ar o andar o mar
Mas o amar
Mesmo que sofredor
Este nunca será impedido
São tantos
E enquanto houver vida
Fenecem, encarecem
Esquecem, mas não desaparecem
Os eternos amantes sofredores
Por amar acima do viver
Além das dores
Inesgotável liberdade de amar
23 de agosto de 2014

Um saculejo, um ensejo

Saculejo. Saculejar é preciso. Saculejo já me faz rir. Saculejar é neologismo. Faz me rir. Saculejar é pretexto pra prosa solta e verso. E verbo me falta onde a timidez alcança. E saculeja tudo em mim e meu peito palpita de prosa e pranto. Planto poesias sem fim no eterno saculejo da vida. Sorrio e tudo se remexe em mim. A vida, esse eterno saculejo. Saculejo não existe. Saculejar é preciso. Saculejo é balanço doido, é erro de português mas quem verdadeiramente é errado é quem fala correto e não vive o que diz. Que saculeje sua vida então. Meu peito palpita de prosa e pranto e dói. Dor palpitando, ansiosa chegada esperada partida. E partilho em silêncio os saculejos da vida. Anseio um abraço mas o medo do laço é que me faz continuar no estado de inércia, o qual todo ser no mundo tende a ficar. Mas saculejar é próprio, é anseio e movimento. Partilho a partida e me dói deixar um pouco de mim. Mas rever é feliz, feliz estou por rever uma amiga de ônibus. Ela me abraça e relembro e já não sinto falta de um abraço. Ou sinto e minto. A vida é isso mesmo. Um eterno saculejo, um sorriso e um azulejo, uns quadradinhos de histórias e estórias. É em si o infinito neologismo. 
5 de agosto de 2014

Se algum dia vier a me encontrar

Caro leitor, não quero cansa-lo com um texto enfadonho. Peço-lhe que se não tiveres paciência de ler-me busque algo mais produtivo. São exatamente 5 e 17 da madrugada de um agosto não muito quente. Venho desabafar neste jardim quase deserto as divagações da minha mente. Quero aqui falar dos amigos que nunca tive, dos que tive e dos que quisera ter, dos que tento ter. Mas os que tenho não farão muita parte deste texto. Pois se já os tenho não há muito o que dizer que caiba em um texto de madrugada.
Quantas pessoas passam por nossas vidas? Dá para contar? Lembro me bem da aflição do primeiro dia de aula no Colégio Militar, não, não era aflição. Era uma ansiedade tola que se me lembro bem não tive medo. Mas eu não estava sozinha, uma colega do antigo colégio também estava lá. Não éramos bem amigas mas conhecíamos uma a outra desde a alfabetização. Isso bastava, um rosto conhecido reconforta. Mas o que fazemos hoje com os rostos conhecidos? Não lembro de ter tido muitos amigos no primeiro ano naquele Colégio. Nunca fui lá muito boa em comunicar me dialogalmente.
E às vezes "a gente se pergunta porque é que não se junta tudo numa coisa só". Fui feliz, fui triste, tive problemas e soluções. Poucas coisas me recordo dos tantos anos que estudei naquele Colégio. Não sou de sentir saudade mesmo estando já há quase um ano sem lá pisar ou rever os velhos amigos. Espero que minha memória não apague as coisas ruins que me aconteceram para que possa servir de exemplo para os filhos que eu vier a ter. Que não apague as boas lembranças pois delas vem a felicidade mais nostálgica.
E as faces com as quais convivi por anos? Alguns morrem, outros entram por caminhos obscuros e ninguém imaginava que aquele pacato hoje seria quiçá um grande estudioso da física, na medicina, das letras. São pessoas que fizeram parte das nossas vidas. E o que fazemos com elas? É certo que a distância, a mudança de rotina e de realidade afasta. Mas a vontade que tenho é de abraçar todos que da minha vida parte fizeram.
Não guardo mágoa daquele garoto que fazia bullying comigo e mais tarde ele confessou me que era apaixonado por mim desde muito tempo. Sim, ele me fez sofrer. Mas o que posso dar a ele? Ah, e aquela garota fotografa? Quem diria, para mim ela jamais seria uma amante das artes. Aquela mesma que era minha amiga confidencial e anos mais tarde me empurrou dentro do ônibus.
Tive tantos bons momentos dos quais lembro-me de poucos. Minha memória me trai. Parece que ela está regulada para lembrar de nostalgias tristes. Não quero mais isso leitor. Se você sabe como fugir. Como me achar em uma foto velha daquele nosso trabalho de dança. Encontre me e saiba que eu agradeço de coração por você ter existido na minha vida. Porque a vida é feita desses clichês, dessas coisas que a gente julga inútil. A vida é feita de momentos e os sorrisos. Ah, os sorrisos! São as pequenas dádivas de Deus a nós todos os dias, presenteando nos com a presença de alguém que talvez nem vá se lembrar do seu nome num futuro distante.
Dos amigos que tive carrego grande admiração, por todos. Grande curiosidade pela maioria. Os que tento resguardar com dificuldade creio que se tornaram os melhores de toda a minha vida, ou os mais presentes. Afinal, quando é difícil demais conseguir uma coisa não se desiste fácil dela quando se tem. Aquela garota ou garoto que eu admirava e nunca tive coragem de falar um 'oi' por uma timidez boba, não faz mal. Talvez eu nunca mais os vejo e se os vir não venham a passar de desconhecidos ou talvez futuros amigos.
Contudo, se você chegou aqui até o final deste texto da minha divagação de terça-feira feira, obrigada! Quero parabeniza lo por tamanha determinação. Eu daria a ti um grande abraço se pudesse, e se puder me cobre o abraço. Claro, se você gostar de abraços. Essas lembranças vagas nos pegam assim tão de surpresa, mas a verdade é que elas estão sempre ali prontas a martelar nossas cabeças sem mais nem menos. Talvez de bonito ou proveitoso este texto contenha apenas uma frase. Mas se você leu e me conhece e se me vir passar na rua e lembrar se do meu nome diga algo ou simplesmente sorria. Se me encontrar em um ponto de ônibus faça me companhia, converse comigo, convide me para ir ao cinema. Mesmo que eu não possa aceitar o convite ou que eu não cumpra quando te prometi que diria oi no chat do facebook. Ultimamente ando odiando essas redes. São úteis para aproximar os amigos que moram a longas distâncias mas muitas vezes deixam enfadonho como este texto aquela conversa que talvez teríamos em meio a risadas no caminho de ônibus para tua casa.
Não faz mal que não lembre o nome ou a ocasião de quando conheceu se determinada pessoa mas há valor em tudo, em cada perfume que passou na nossa vida. As pessoas são mesmo como plantas, deixam suas lembranças em nós, seu perfume, sua semente. São um jardim particular de Deus. São partes repartidas, separadas mas nunca isoladas. São parte das memórias que temos dos nossos dias. São apenas pessoas, singulares no plural mas que são capazes de deixar um pouquinho de si nas outras concluindo que ninguém vive sozinho quando se tem vontade de viver e não apenas existir. Agradeço a presença dos perfumes que vieram a florear minha vida pois é deles que tiro inspirações de ser melhor a cada vivência.
Se um dia vier a me encontrar seja um clichê barato, faça me rir, deixe uma memória em mim. Um abraço que seja. Uma demonstração de que eu existi.
15 de julho de 2014

Mais uma história de amor não compreendido

Em meio a tanta gente ela ainda conseguia se sentir só. Forjava sorrisos e dizia em simpáticos cumprimentos que estava bem. Os olhos mentiam hipocritamente com um brilho sutilmente feliz. De repente seu olhar encontrou um sorriso. Aqueles dentes bem alinhados e aquela boca que ela conhecia bem. Ele estava lá como já era de se esperar, mas para ela encontrá lo sempre lhe causava surpresa. Notou que o cabelo dele estava penteado para o lado que ele não costumava deixar. Ele andou até ela e cumprimentou a. Ela sorriu sem esforço e sentou à mesa dele. As tias do quase nascido Arthur entraram no salão vestidas de criança, apresentaram um teatrinho simulando a infância do pai do Arthur, o Marcelo.
- Engraçado ne?
- Exatamente igual à nossa infância mesmo, minhas irmãs são ótimas.
- E seu irmão está muito ansioso para a chegada do Arthur?
- Provavelmente sim porque eu que sou tio estou muito. 
- Você será um bom pai com certeza.
- E como você sabe disso?
- Você adora crianças... minha intuição também diz.
- E ela diz com quem vou me casar?
Aline gelou, ela gostaria muito de dizer a ele que se dependesse dela os dois se casariam.
- Olha Aline, minhas irmãs estão fazendo aquele dia em que você fez xixi no Marcelo e ele te soltou.
- Nossa que vergonha.
- Pare de ser boba, você era apenas um bebê. Meu irmão nunca teve jeito com criança, está super ansioso e preocupado com a chegada do Arthur.
- Mas pelo menos ele teve a iniciativa de entrar para um curso de pais. Você entraria para um curso de pais Mário?
- Acho que não precisaria.
As homenagens ao casal Marcelo e Flávia acabaram e agora os convidados estavam a vontade para conversar e comer os quitutes do chá de berço.
Aline se divertia conversando com Mário. Eles falavam da infância e percebendo se que o destino os quisera tão pertos desde o nascimento. A mãe de Aline era prima do pai de Mário e a mãe dele era melhor amiga do colegial da mãe de Aline.
Um amor simples, uma amizade espontânea sem fingimos, mas o medo. O medo dos dois de estragar tudo. O medo de se arriscar. Nem todo mundo tem a sorte de amar o melhor amigo de infância. Aquela pessoinha que você beliscava por ciúmes do seu pai por brincar com ele. Aline é filha única e Mário tem 3 irmãs e 1 irmão. Mas até a adolescência eles ainda não sabiam que estavam destinados a pertencer um ao outro. Quem não quer um amor assim? Caro leitor, se você tem um amor assim, puro, de infância, repare bem. Arrisque se! Sua história pode ser linda ou traumatizante. Mas posso te dizer que das duas formas ela sempre dará uma nova crônica. A vida é para ser lida. Quem te lê pode ser um amigo, um pai, uma mãe, um irmão, o mundo inteiro.
Sonhei com um amor infantil, com essa pureza de encontrar alento ao segurar as mãos de alguém. Não sou mais criança mas posso voltar a ser para encontrar sorriso no caos. E é assim que tem que ser. Aline e Mário precisam voltar a ser criança para arriscar se a uma cicatriz ou a ganhar o mundo no olhar um do outro. O amor é assim, nasce como uma criança. Por mais planejado que seja nunca se sabe o dia exato em que ele começou a existir. O amor é um bebê que precisa de atenção, de cuidados, de carinho, de afeto, de proteção, de dois pares de mãos para abriga lo. O amor é um bebê que nunca envelhece.
4 de julho de 2014

As (entre)linhas e a ausência delas

Ando em constante luta entre razão e seja lá o que for o resto que faz doer órgãos que nunca imaginei que saudáveis poderiam ressignificar a dor. Falta ar mesmo com os pulmões cheios, dói o coração, o estômago parece estar cheio de intrusas borboletas lutando para subirem pelo esôfago e saírem pela boca. O coração ininterrupto segue após uma "parada cardíaca cerebral", batendo na caixa torácica e querendo sair pela boca carregado pelas borboletas. O por que disso tudo?  Porque simplesmente eu deixei as entrelinhas falarem por mim. Ou a ausência delas falarem por si. A boca seca a fala sessa e as linhas enchem se de frases sem contexto. E foi mesmo fora de contexto que o sentimento surgiu. Não havia motivos para estar ali. Foi numa manhã de quinta-feira feira quando eu o vi na padaria e ele me perguntou se eu gostava de pão de queijo. Eu disse que sim e ele disse que minhas bochechas eram fofas como dois pães de queijo.  Uma piada infeliz que me deixou desconcertada porque eu achei que meu amigo de infância estava curtindo comigo enquanto já tínhamos conversado sobre piadinhas. Mas relevei  porque parte de mim achou fofo ter uma cara de pão de queijo. Eu poderia ter escolhido achar a piada dele ofensiva mas deixei a observação de lado. Mas não foi ali que o sentimento surgiu? Nunca se sabe. 
A paixão não tem data ou hora marcada, ela entra sem convite e quando percebemos ela está ali num cantinho do peito fazendo morada há muito tempo. Mas foi numa tarde de terça-feira que talvez ela tenha pedido um espacinho dentro do meu peito.  Naquela tarde ensolarada em que ele me chamou para andar de bicicleta no calçadão e eu aceitei com um sim cabisbaixo que pareceu mau gosto. Aquela tarde em que dar um passeio para desestressar foi apenas uma desculpa para me tocar com suas mãos calorosas. Mas foi ali naquele olhar caloroso e aflito que o sentimento nasceu? Foi naquela amizade inocentemente infantil? Mas a infância não é de todo inocente. Lembro me que nós éramos namoradinhos no primário. Dávamos as mãos como outrora recente e parecia que nunca teria fim. Seria ali onde a sementinha do sentimento nasceu? Nada podemos afirmar, porque paixão é vida dentro da gente.  Uma vida viva e independente. E aquele olhar caloroso que se transformou em um beijo apaixonado, que tocou uma parte de mim que eu não sabia que existia, a parte que a mim não pertence. A parte que hoje a mim incomoda. 
Eu com os olhos arregalados e o coração a bater a mil por segundo perguntei lhe aflita o que era aquilo. Ele com o mais ingênuo sorriso disse com sarcasmo como ainda quase o ouço "ora, isso se chama beijo. Você gostou?",  bati com uma força banal no ombro dele dizendo "explique me o que foi isso ou..."   e ele interrompendo me "se você não gostou pode me devolver meu beijo". Naquele momento eu entendi ou quase compreendi quando eu o perguntava como as garotas caiam no papo dele. De cabeça baixa relembrei de quando ele chorou deitado com a cabeça nas minhas pernas pela garota que ele tanto dizia amar mas que o traiu com o primo dele. Não era a paixão pela ex namorada ainda recente? E ele a me cutucar dizendo "quando é que vamos te desencalhar". Um fluxo de memórias me fez perder a noção do espaço ao meu redor. Ele acariciou meu rosto dizendo "perdoe me, acho que eu não deveria ter te beijado". Em lágrimas olhei o "mas por que beijou?" , eu estava confusa não sabia se foi ali que o sentimento apareceu ou se ele já existia e tinha apenas acabado de germinar a sementinha da paixão. Minha vontade era apenas de abraça lo como nunca antes, agora sem nunca mais soltar. A ausência de contexto logo transformou nosso relacionamento lindo em brigas e feridas que ainda estão abertas. Ninguém o conhece mais que eu, nem mesmo a mãe dele e igualmente ninguém conhece me mais que ele. Esse saber excessivo que levou a tantas brigas. O meu mau gênio e a mania de querer saber demais, minhas linhas tortas não andavam em paralelo com as linhas dele. Agora nossas vidas não estavam sendo apenas vidas cruzadas. O espírito aventureiro dele e o meu medroso jeito de me arriscar sempre com os dois pés atrás fez um emaranhado de linhas. Em meio a tantas brigas e momentos de infinitos amores eu buscava o fio da meada para desenrolar aquela situação muitas vezes agradável embora desgastante. 
Não encontrei o fio da meada mas descobri que a meada pode ser cortada. A tesoura que encontrei foi o tempo. Terminei com aquilo mas ainda sou refém dos sentimentos. Ele ainda me considera sua confidente e eu não confidencio a ele que o amo apesar dos pesares. Não há como saber se ele realmente superou, afinal ele sempre foi um bom mentiroso. Foi com ele que eu aprendi. As lembranças me levam a pensar que foi ali entre as linhas do pôr do sol, entre as linhas do calçadão,  entre as fibras do coco no refresco da água em minha boca seca sem palavras, entre o limiar dos olhares que nossas vidas se emaranharam. Entre as linhas ou na ausência delas. Porque paixão é isso mesmo, é uma bagunça de fios sem contexto em que às vezes o melhor a fazer é cortar mesmo quando a tesoura deixa uma parte do outro na gente. A parte que a nós não cabe mas às vezes pertence. Uma ausência com presença que se coloca no lugar como a planta dentro da semente. Sabendo que ela não cabe mas ali mas só por existir é seu dever fingir ausência. 
3 de julho de 2014

Apenas metáforas


Eu não sabia que era capaz de perdoá-lo. Depois de tudo que ele fez, a farsa, as mentiras e mesmo sem ter admitido o próprio erro ou ter me pedido desculpas eu desculpei-o. O que sinto agora é uma imensa vontade de descobri-lo. Eu poderia simplesmente ir até ele e pedir uma explicação que eu sei que ele nunca dará. Mas não posso, não é orgulho é só proteção. Ele nunca foi sincero comigo ou pelo menos em grande parte não foi. Não é certo eu correr atrás de um mentiroso que pode destruir ainda mais meus sentimentos. Meu desejo é que ele viesse até mim pedindo perdão e dizendo que sente muito e que sente algo por mim. Eu duvidaria, mesmo que uma dúvida fingida mas sentiria uma... Não sei o que sentiria, nunca fui a pessoa que sente mas sou a pessoa que imagina. Por mais dolorosa que foi essa experiência de ser enganada parte de mim ficava feliz por ele sempre ter estado tão perto, mesmo que eu não saiba quem ele é de verdade. Resta-me agora apenas escrever o que tanto preciso esconder. Mais uma vez ocuparei os esconderijos do meu coração. Aqueles que por tanto tempo deixei de portas fechadas e tornei-me mais transparente inutilizando-os. Agora tais caverninhas do meu ser voltam a estar ocupadas. Na caverna maior habita uma vaca muito sábia, intocável e sagrada, uma flor que nunca murcha e que nasceu entre pedrinhas e espinhos. A flor abriga uma fada de asas douradas que está morrendo. A fada chama-se Esperança. A flor é seu abrigo mas suas pétalas a sufocam por mais macias que sejam. A flor imortal floresce, ela deseja incessantemente ser arrancada dali. Ela quer sair daquela caverna e florescer em meio à luz do sol e ao brilho do luar. A vaca a vigia e não deixa que nenhuma criaturinha da noite a colha e leve-a para fora da caverna. A esperança padece e o vento frio adentra a caverna gelando meu peito. Mas são apenas analogias que faço para desgrenhar os fios das meadas em meados do meu ser. Apenas analogias.

Vocabulário metafórico: vaca=razão, fada=esperança, flor=sentimentos e emoções.
1 de julho de 2014

Calma sem carma



Sinto carma, me sinto um carma, meu próprio carma sou eu, é tão difícil conviver comigo mesma e depois deixar tudo para trás agir como se eu não sentisse nada, como se eu não fosse nada (não sou nada mesmo). É pior conviver com seu carma quando ele já se tornou você, ou ainda pior, grande o bastante e capaz de se fundir ao seu próprio ser. Todos nós temos um carma mas a maioria das pessoas consegue pelo menos dormir sem ele ou não pensar nele. Talvez uns dirão que pareço atriz, que sou a rainha do drama e etc… Não queria que ninguém visse o que eu escrevo sem pensar mas que fique claro: ninguém é forte o tempo todo, e uma hora tudo escapa, você escapa de si se descontrola, joga toda a reputação que criou para o ar como se esta nunca houvesse existido. Deixo rastros o tempo todo sobre o que realmente sou, mas parece que é tão fácil encobri-los que quando realmente percebem como eu sou e me sinto me desespero. Não recupero tão rapidamente a essência das alegrias constantes.  Sinto falta, faz me falta ser somente eu sem me culpar por ser eu. Conformar me com a minha essência de ser ou muda la. Sem carma, com calma, depois dos desabafos e das lágrimas o jeito é prosseguir, esquecer como me sinto quando estou sozinha e quando penso demais. O jeito é seguir em frente dando trancos e passando por barrancos e vez ou outra construindo uma ponte de amizade que me faça conseguir chegar ao outro lado do rio. Porque a vida é isso mesmo, um dia a gente sente no outro a gente só é feliz. Feliz por inteiro,sem carma. Calma ! 





30 de junho de 2014

Fora do roteiro


Há dias em que o céu dela está nublado em uma tarde ensolarada, há dias em que chove dentro de seu apartamento. Há dias que ela acorda sem vontade alguma de sair da cama. Em desaprovação ao mundo ela levanta-se. Ela tem que superar, tem que vencer uma batalha por dia. Tem que ser feliz, ser feliz é condicional para uma vida saudável. Ela tem que ser alegre, ou menos que alegre. Tem que ser racional. Ela sempre foi racional, racionalidade nunca lhe faltou. Mas a mesma racionalidade que a salva todos os dias também a condena. Ela não aprendeu a acreditar, duvidar talvez não faça parte da racionalidade de certo mas para ela duvidar fazia parte do exercício de vida. Agora sabendo que duvidar de tudo é quase desesperador ela tenta acreditar em alguma coisa. Ela sempre acreditou em tudo, menos em si mesma. Este é o pior dos exercícios. Acreditar em si mesma não fazia parte do plano, mas às vezes o que não está no roteiro é o mais necessário. Não há mais aquele alguém que se encaixa à aquela música que ela gravou. Não tem mais ninguém que ria de uma coisa boba que ela disse. Não existe mais alguém em quem ela confie para dizer os seus problemas. Não estava dentro do roteiro estar sozinha. Não estava dentro do roteiro ter um roteiro. Ela se viu mais forte como nunca, tão forte como nunca sonhou ser. Mas ela é uma garota forte e ninguém além dela pode provar o contrário. Ela descobriu de uma forma não muito agradável que as pessoas vivem por tapar o buraco das covas que cavam para a própria alma, mas tardam em cair em suas sepulturas. Tapam a infelicidade com falsos sorrisos. Poderia citar milhões de tapa buracos mas tornaria este texto um pouco mais tedioso e clichê. Falo das pessoas que são o próprio tapa buracos de outras. Não faz sentido mas algumas pessoas se apaixonam por outras para esquecer a última tragédia amorosa que a própria paixão trouxe. Sinceramente isso não faz sentido. Nenhum. Ela foi vítima de alguém que escolheu não se entregar, que escolheu tapar um buraco enquanto deveria ter curado suas feridas e só então dar lugar a um novo amor. Relacionar se não pede um roteiro, aliás um roteiro atrapalha tudo. Ela agora aprendeu a viver sem roteiro, porque ser inteiro é isso. É ser uma peça de teatro improvisada a cada dia.     
28 de junho de 2014

Pessimismo


Querida celulose,

Há gritos mudos em mim, há algo que não consigo expressar. Ah, sobre expressar o que sinto sei muito bem explicar. Sou metida a me descrever mas pouco sei sobre mim. Converso com as paredes, mando cartas para um destinatário inexistente. Há muito aprendi a reprimir o que sinto e esconder o que penso. E é assim que eu me expresso: não externando nada.

Querida celulose, senti tanto a sua falta, há tanto tempo não confio em você para contar os meus segredos. Perdoe-me a falta de tempo. Quero contar - lhe que não choro mais, não amo mais, sinto - me como se eu fosse o que tu foste outrora, um vegetal. Grande arbórea sem voz.

As lágrimas aparecem vez ou outra mas não as deixo cair. Talvez uma atrevida se disperse pelo meu rosto. Se alguém viu  contei que era uma lágrima de rinite alérgica. Infalível, acreditam e deixam-me em paz. Lágrima tão inconsequente vem trair minha face pelo olho direito, àquele que o cabelo não cobre.

Você percebeu o quanto eu mudei ? Estou sendo empacotada pelas normas, até para falar contigo eu separo o texto em parágrafos. Mas a bagunça em minha mente ainda permanece. Quanto às dúvidas coloquei-as na minha caixa do nada, do vazio, do inexistente. Dúvidas ? Ainda existem mas agora somente as escolares, principalmente de geometria analítica.

Descobri que esse é o preço que se paga para tentar refazer, reconstruir e viver um sonho antigo. Medicina da solidão. Da quebra de expectativas, da impotência, da incapacidade, da lágrima que não sai, do câncer social. Ao menos abandonei a vida virtual que tinha por uma mais produtiva.

Linhas desta folha digo-lhes que talvez darei a qualquer um esse papel com todo o sentimento e com sentimento nenhum. Se a covardia me permitir dizer adeus poderão chamar-me de louca. Mas em prosa de poeta há mesmo certa loucura.

Despedida: como amor do Grafite menos energético, mais abundante e de cor e valor simples. Desejo a você todo o carbono do mundo. Seja feliz papel, no lixão que te espera, sou grata aos 10 litros de água que se perderam ao produzir-te.

Com enrolação, adeus!


Que fique claro a vocês caros leitores que este texto foi escrito em um momento de pessimismo. Isso não significa que eu seja assim. E o mais importante, é um mero texto artístico. A foto acima é o papel original que por sinal não foi descartado. Esse texto foi escrito em 2013. 
26 de junho de 2014

Flor de utopias

Tudo finda - se em utopia
até os amores, os laços, os abraços
Torna-se flor que cultivo no meu mar de nostalgia
Essa relutante utopia que transforma ser em poesia

Sou poente, sou sol
Es (tu) minha energia
Sou o mar e o amar
A ternura e a lucidez

Sou (teu) sonho
E a beleza em escassez
Óh distância
Quanto há em mim que seja relutância ?

Não quero utopias, quero realidade
Ser eu em verdade
Sorrir porque o céu é azul
Sentir o frio no inverno

Que não haja inverno em mim
Que haja utopia onde realidade não houver
Porque utopia é realidade no pensamento
E sonhar é a grandeza e a beleza do momento
23 de junho de 2014

O construtor de utopias



Um engenheiro do próprio destino fez de sua existência a própria poesia ambulante. Com todo o saber da matemática, calculou minuciosamente os segundos para dizer palavras doces para a boca e medicina para a alma. Com a física aprendeu que toda ação possui uma reação. Amou para ser amado e foi amado e amou. Para ele a inercia é arrebatadora. É como o silêncio se não houver palavras ou ações. Tudo permanece como está e não adianta reclamar se nada aconteceu pois cada essência de cada ser humano é a força motriz da mesma existência. Tudo é imutável onde a essência de cada ser padece desesperançosa. O desenho é fundamental para que uma construção seja feita. Desenhar a vida é muito mais do que simplesmente construir uma história, é seguir os moldes do saber, do pensar, do agir, do falar, do sentir... Moldes criados por si e para si. Moldar a vida é um ato de flexibilidade, mais flexível que a engenharia porém mais complexo. O engenheiro segue corretamente as regras para que sua construção seja concluída com sucesso. Superar as leis da física um engenheiro qualquer não seria capaz. Entretanto, um construtor de poesias supera tudo, tudo que vá além do seu eu poético. Plantou - se um jardim em um prédio. Ah , quem diria! Um jardim vertical! A beleza de poesia expressa em uma parede fria. A coisa mais linda que já vira. Flores exalando seu aroma, perfumando a cidade e o coração do engenheiro de cálculos infinitos. Um construtor qualquer deseja que sua construção seja imensamente valiosa e reconhecida. O construtor de utopias quer ser jardineiro e cultivar um jardim em cada esquina. Ele quer que o perfume das flores alegre cada essência humana por onde ele passar. Vasculhei nos becos escuros e também onde havia mais claridade na imensidão do universo. Porém só encontrei nas utopias infinitas essências de uma fantasia especial construída com amor, algo surreal e surpreendente. Achei nos becos relatos do coração a mais bela construção. O mais caprichoso construtor de utopias surreais, enfim quis seguir para os fins da eternidade. Utopia, infindável poesia, profunda melodia onde não há som, ondas mecânicas que quebram as paredes do coração. Não importa se há de ser inalcançável os sonhos que se tem. Construir utopias é ser engenheiro da própria vida, sonhar é preciso para que não se deixe padecer a essência que se tem, a essência da vida. Poetizando os becos escuros por onde há de se passar.     
10 de junho de 2014

Entre Aspas: TER OU NÃO TER NAMORADO

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. 
Namorado é a mais difícil das conquistas. 
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. 
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. 
Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. 
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. 
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. 
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. 
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. 
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. 
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. 
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro. 
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. 
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. 
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. 
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. 
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. 
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. 
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. 
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.


Autor: Artur da Távola. 

Oi galera esse texto foi recitado pelo meu querido professor de história Rodrigo França. Feliz dia dos namorados para vocês. 
3 de fevereiro de 2014

Segunda-feira


Um dia comum, início de semana. Tudo começa novamente, mas não há recomeço. Ela sente novamente o peso de existir, o peso de ter defeitos, o peso de não ser o que os outros querem que ela seja, sente a tonelada em suas costas por não ser quem realmente quer ser ou por não saber o que realmente é. Ela largaria tudo, doaria todo seu sangue para conseguir agradar as pessoas, mesmo que ela não agradasse a si mesma. Mas não correspondendo as expectativas dos outros ela não supera seus medos pois tudo que ela gostaria de ser era agradável e começar uma segunda-feira de recomeços.
Ela nem se quer consegue pedir ajuda, para ela pedir ajuda seria admitir com mais força que ela nunca poderá se encaixar ou ser o que os outros esperam dela. Sua insensibilidade é uma forma de escudo para proteger se do mundo. Mas a verdade é que ela é sensível, muito sensível. Chora escondido e treina chorar cada vez menos na frente das pessoas. Ela tem que parecer conformada com sua condição, tem que parecer feliz para que não sintam pena dela. Ela odeia que sintam pena dela. Ela está cansada de ter atenção apenas de pessoas que sintam pena dela. Ela quer ser boa o bastante para construir relacionamentos por ser uma pessoa interessante não para servir de título para aqueles que acreditam que "ajudá-la" é um ato de caridade que tornará o ajudante uma pessoa melhor no mundo.
A garota está cansada de ser a lata de lixo dos outros. Está cansada de ser o depósito de lixo ou o próprio lixo. Está cansada de ter uma amiga que só lembra dela quando briga com o namorado. Está cansada do impossível. Nessa segunda-feira ela só quer se compreendida. Ela só quer que vejam o lado dela, que enxerguem o que fazem dela. Ela sabe que não é a melhor garota mas sua arrogância e sarcasmo não é por falta de educação mas para parecer um pouco mais impenetrável para acharem que ela não está sendo atingida pelas palavras duras, pelos insultos perfurantes. Ela quer pensar que não acredita naquelas meias verdades.
Mas ela sabe que é um monstro, uma inútil sem propósito nenhum de existir. Segunda-feira deveria ser recomeço mas é apenas um dia que mais uma vez ela erra e se sente mal depois de uma briga e da pior briga, a briga consigo mesma. É só mais um dia cheio de cicatrizes e feridas abertas. É apenas o primeiro dia da semana que ela se sente perdida, afinal domingo é dia de se entorpecer para esquecer que existe.  
1 de fevereiro de 2014

Sem barreiras


Ele pintava aquele rosto com a maior das delicadezas. Fitava o papel como se houvesse algo além daqueles traços perfeitos. Suspirou, um suspiro profundo, logo faltou lhe o ar que foi recoberto por uma única lágrima que rodopiou em sua face branca. Aqueles traços perfeitos, como queria que eles estivessem presentes agora, tomou uma xícara nas mãos e levou a até a boca, deixou apenas que tocasse seus lábios não se permitiu tomar nem sequer um gole daquele liquido preto que lembrava apenas o calor que ela um dia transmitira a ele. Tudo fazia o lembrar se dela, a seda das suas camisas finas lembram o toque daquelas mãos delicadas que um dia ele aqueceu, a lua lembrava lhe o brilho daquele olhar singelo que por tantas vezes fitou o com amor, as rosas lembram o cheiro daquela pele macia que por tantas vezes o aqueceu, as margaridas lembravam agora mais do que nunca a palidez que ele vira na véspera.
Sua pequena, a eterna pequena dele havia partido e deixou nele lembranças, a maioria boas, então lembrou se de como seria legal se eles tivessem filhos, se culpou por ser estéril. Mas Deus sabe o que faz, com tanto amor que ele a amara seria um castigo ver os mesmos genes daquela ternura vivos e pior com a mesma dor que ele sentia, a dor da perda. Seria ainda mais doloroso se ele visse sua filha ou filho com um olhar triste, então lembrou se do olhar triste dela quando o médico deu a sentença da esterilidade. Aquele olhar triste que consolou o muitas vezes, apesar de ser o mais abalado, lembrou se de como ela queria ser mãe. Para vê - la feliz ele seria capaz de qualquer coisa. Mas agora já não era mais possível, ela partira para sempre. Ela partira, mas ali continuara sua essência, a essência que ela sempre transmitira, a de um amor simplesmente sem barreira. Um amor que excede os limites da vida. Tentou lembrar - se apenas dos momentos felizes que tiveram e ficou contente por terem sido maioria. O que aconteceria com ele, ele não sabia mas jurou a si mesmo que nunca deixaria que ela morresse dentro de si. Viveria como ela gostaria que ele vivesse, mesmo que isso doesse muito. Em memória do amor de sua vida, amaria sem barreiras e faria tudo para ajudar as pessoas com toda a bondade que era dela. Faria de sua amada seu espelho, tentaria ser feliz e fazer as pessoas felizes através de sua arte. A arte sem barreira através de um amor sem limites. 
26 de janeiro de 2014

Tapa-buracos


Viemos de fábrica zerados, sem nenhum defeito aparente. Mas ao crescermos somos moldados pela educação de nossos pais e pela própria natureza humana. Decidimos o que faremos com nossa vida e às vezes o que fazer com a vida alheia. Somos humanos, cheios de erros e defeitos. Humanos cheios de consequência. Humanos que aprendem a andar sozinhos, a pensar sozinhos - quando a alienação permite -, humanos que aprendem a usar a pior das drogas, apaixonar-se. Droga que abre crateras em nós e forma grandes erosões e que faz de nós cavadores de vida alheia ou da nossa própria. 
Humanos cheios de orgulho e preconceito. "Este não é bom o bastante para mim". "Este é pobre consequentemente um alienado". Rotulamos as pessoas para que elas façam sentido em alguma parte do mundo. Ou para apenas tirar de nós o peso da dúvida de existir. Afinal, todos devem fazer sentido - discordo! Mas sinceramente as pessoas não fazem sentido algum e apenas o que elas são capazes de sentir faz menos sentido ainda que as próprias. O tal do sentir. O tal desconhecido sentimento que aproxima quem está longe mesmo que doa. Uma dor abstrata que é tão real como um infarto do miocárdio ou um traumatismo craniano.
Nós, realmente "nós" não faz sentido. A gente também não ! Junto ou separado, a gente não faz sentido de existir. Se um de "nós" não teve motivos para amar - talvez não aparente - apenas deixou - se levar pelo embalo de um sentimento sem sentido então faz sentido. Ou o sentido de ter se apaixonado foi apenas um tapa buracos para uma vida solitária ou outra lotada de desilusões e decepções. 
Ninguém, absolutamente ninguém quer fazer sentido sendo o tapa-buraco de uma alma triste. Brincar de fazer sentido não faz sentido porque absolutamente não faz sentido ter sentido para tudo. Observo o cansaço dos que buscam um sentido para sentir, desde que o sentido não seja procurar algo que tampe suas dores em outra pessoa. Não há sentido em sentir "a gente" apenas sente. 
Pessoas não são remédio, não são álcool, não são droga - claro que há exceções das que conseguem ser tudo isso juntas. Pessoas não são tapa buracos, é um pena que outras pessoas não saibam desta útil informação. Pessoas sentem e não gostam de se sentir apenas o ópio de outras, a cura temporária. O remédio enquanto a verdadeira cura não vem. Enquanto nada melhor acontece amar é prosa e poesia. 
Sentir tem seus custos. Brincar de se apaixonar é crime. Forçar se a gostar de alguém para esquecer de sentir as antigas dores é o útil e imundo trabalho do tapa buracos. Que vá para o inferno quem ouse usar outros para tapar sua feridas. Ou que seja perdoado e atire a primeira pedra quem nunca o fez. Tapar não cura, talvez apenas pare de latejar a dor. 
E que problema há em ser tapa buracos de alguém ? Desde que você não saiba não há problema algum. Mas se souber... Sinto muito mas vai doer. Doer muito. Afinal ninguém quer ser apenas um curativo. Merecemos ser a cura, desde que seja reciproco. Reciprocamente possível, para que não doa a saudade. Pois saudade mal curada se enterra com porres, com falsos amores, com aventuras perigosas, com ópio - o ópio de outros tapa-buracos, com adrenalina, com tudo que distancie o pensamento do sentimento. Tudo que faça por segundos esquecer o sentir.