13 de dezembro de 2014

Mar em pingo d'água


Prendi meu cabelo com um laço porque ele não se comporta bem perto de você. Tende a se esvoaçar a perder o controle, a se comportar mal, a desatinar. E ao acaso tenho coragem de estar perto de você, de soltar minhas ligas, desatinada por completo. Mas você cometeu um erro, meu bem. Deixou que tudo fosse ao meu modo, me deixou assim livre, solta e sem quadros. E eu nunca estive assim, sempre precisei das limitações, das regras. Mas você me deu espaço. Um espaço que eu não soube usar, que me deixou mais constrangida do que à vontade. Eu nem sequer tinha expectativas e só soube ser solta para você me ensinar a dançar descalça. Eu não soube rodopiar sem as sapatilhas que limitam o movimento dos meus pés. Não sei ser precisa na imprecisão. Desculpe, mas não aprendi a dançar na floresta do teu peito. Não aprendi a navegar no teu pensamento. Não aprendi a ser o brigadeiro da sua panela. Soltei meu cabelo pra você ver a imperfeição, aquele corte desalinhado combina com o desalinho dos nossos corações. Você derramou em mim cachoeira de mar enquanto eu fui apenas um pingo d'água e por dentro eu nem mesmo sabia o que estava fazendo, porque você fez tudo. Se derramou mais do que cabe em mim e eu sem saber o que fazer com tanta água fiquei muda. Não havia mais nenhuma palavra que não estivesse submersa no seu mar. Algumas começaram a boiar e aos soluços eu disse. Que infelicidade foi dizer, dizer coisas sem sentido que você nunca entenderia, mas eram as únicas coisas que ainda lutavam em não se afogar na superfície. O resto tinha decidido prender a respiração e se resguardar no fundo. Sua constância deixou me constrangida, você não se lembrou de me esquecer. Mas soube me prender na sua liberdade, uma prisão bem mais atuante que as regras impostas. Não soube ser livre, não aprendi a voar, meu balé precisa de sapatilhas, meu cabelo tem que estar preso. Minhas mãos frias combinam com a frieza do meu coração, não se espante se eu não me derramar (derramei, não amei). Não morra pela inanição do meu amor meu bem, ele precisa de uma jaula e de um vigia que observe que aos poucos ele pode se mostrar. Perdoe -me por não aprender a ser mar (e a te amar como você queria), por enquanto sou apenas pingo d'água e medo de você se aproximar.