4 de fevereiro de 2015

Indeterminado

Se não quiser ler tudo, leia apenas os 3 últimos parágrafos! 

Ah, Paulo. Um Paulo qualquer talvez, meu professor Paulo Camilo, idoso calmo da gramática do saber ao sono e as reflexões. Não foi a primeira vez que uma aula dele me inspirou. Lembram se do "Soneto da Reflexiva" ? Não?! Pois bem, estou aqui refletindo mais uma vez sobre a vida e os indeterminados flexíveis ou não.

Olho pra a direita e vejo um simpático amigo, ao lado dele aquele que me inspirará talvez criações e talvez se tornará uma personagem marcante ou não, mas uma personagem que não se passa por despercebida. A tal personagem que gosta das mesmas aulas que eu gosto e que número reduzido de pessoas se afeiçoam. Gramática!

Não foi dessa vez que eu imaginei aquela personagem e ela me tirou atenção. Compreendi toda a gramática e os sujeitos simples ou complexos, determinados ou indeterminados. Mas de repente por sei lá que motivo meu olhar vai de encontro a uma panturrilha e tudo se desembaraça, ou me embaraço mais ainda e perco o fio da meada.

Aquele sujeito esbelto de panturrilha firme desencadeou uma guerra em meu cérebro, espartanos contra atenienses. Troianos contra gregos. Uma guerra para além da gramática. Paulo Camilo não se fez mais presente por mais ou menos 6 minutos, para mim um tempo enorme para se perder imaginando absurdos. E a aula de história foi antecipada, acabei escrevendo História do Brasil no caderno de História Antiga.

O tal rapaz se fez guerreiro em meu devaneio sem sentido. Uma curta guerra que ressaltava sua braveza, inteligência e também beleza que para os povos mediterrâneos era muito importante. Transformei o em uma estátua, pisquei incrédula. Quantos minutos ? Será que alguém percebeu meu olhar para aquela perna sem sentido? O único sentido era andar, levantei me e fui ao banheiro ainda imaginando o rapaz em forma de mármore branco com seus cachos genuinamente esculpidos com a beleza e precisão das esculturas de Michelangelo.

A aula acabou mas esta crônica ainda não. Entrei no ônibus e comecei a ler o livro que minha amiga me deu, pretendo resenhá-lo futuramente. Observei as gramáticas, tantos sujeitos indefinidos e agora eu entendia melhor dos meus e o motivo pelo qual minha mãe sempre se queixou de não entender meus textos.

São todos sujeitos indefinidos, assim como o pseudo guerreiro de Troia. Indefinidos para vocês caros leitores, para mim até mesmo alguns são. Meras invenções, muitas vezes até esquecidas. Personagens sem nome. Totalmente indeterminados, porém conhecidos e com sentido prévio. O sentido pelo qual não reforço a personagem mas o que ela causou, pouco importa se a determinei.

Tão indeterminados somos que a qualquer momento podemos mudar de opinião e começar a gostar de coisas que aparentemente rejeitávamos. A própria aula de Gramática, não gostava muito e sentia aquele tipo de sono mortal enquanto o professor falava, mas um dia decidi que sentiria gozo em toda aula de Gramática e acabei me afeiçoando por ela.

Indeterminados somos, não só sujeitos em terceira pessoa e nunca citados. Somos incabíveis indeterminados, incompreendidos, desencontrados, desencantados, descontrolados, troianos, gregos, guerreiros, poetas, estudantes, sujeitos com seus preceitos, apenas números e muito mais que números, observadores, amadores, aspirantes, cheios de adjetivos. Adjetivados sujeitos, determinados em ser indeterminados na tentativa se determinarmos a ser protagonistas da eterna crônica da vida.

Perdoe me a confusão, se não pude determinar nem a minha própria crônica não cabe a ninguém a determinação de ser quem somos, não cabe a ninguém se prender em ideias pré concebidas, afinal somos todos uma ideia nova que surgiu no mundo.