3 de fevereiro de 2014

Segunda-feira


Um dia comum, início de semana. Tudo começa novamente, mas não há recomeço. Ela sente novamente o peso de existir, o peso de ter defeitos, o peso de não ser o que os outros querem que ela seja, sente a tonelada em suas costas por não ser quem realmente quer ser ou por não saber o que realmente é. Ela largaria tudo, doaria todo seu sangue para conseguir agradar as pessoas, mesmo que ela não agradasse a si mesma. Mas não correspondendo as expectativas dos outros ela não supera seus medos pois tudo que ela gostaria de ser era agradável e começar uma segunda-feira de recomeços.
Ela nem se quer consegue pedir ajuda, para ela pedir ajuda seria admitir com mais força que ela nunca poderá se encaixar ou ser o que os outros esperam dela. Sua insensibilidade é uma forma de escudo para proteger se do mundo. Mas a verdade é que ela é sensível, muito sensível. Chora escondido e treina chorar cada vez menos na frente das pessoas. Ela tem que parecer conformada com sua condição, tem que parecer feliz para que não sintam pena dela. Ela odeia que sintam pena dela. Ela está cansada de ter atenção apenas de pessoas que sintam pena dela. Ela quer ser boa o bastante para construir relacionamentos por ser uma pessoa interessante não para servir de título para aqueles que acreditam que "ajudá-la" é um ato de caridade que tornará o ajudante uma pessoa melhor no mundo.
A garota está cansada de ser a lata de lixo dos outros. Está cansada de ser o depósito de lixo ou o próprio lixo. Está cansada de ter uma amiga que só lembra dela quando briga com o namorado. Está cansada do impossível. Nessa segunda-feira ela só quer se compreendida. Ela só quer que vejam o lado dela, que enxerguem o que fazem dela. Ela sabe que não é a melhor garota mas sua arrogância e sarcasmo não é por falta de educação mas para parecer um pouco mais impenetrável para acharem que ela não está sendo atingida pelas palavras duras, pelos insultos perfurantes. Ela quer pensar que não acredita naquelas meias verdades.
Mas ela sabe que é um monstro, uma inútil sem propósito nenhum de existir. Segunda-feira deveria ser recomeço mas é apenas um dia que mais uma vez ela erra e se sente mal depois de uma briga e da pior briga, a briga consigo mesma. É só mais um dia cheio de cicatrizes e feridas abertas. É apenas o primeiro dia da semana que ela se sente perdida, afinal domingo é dia de se entorpecer para esquecer que existe.  
1 de fevereiro de 2014

Sem barreiras


Ele pintava aquele rosto com a maior das delicadezas. Fitava o papel como se houvesse algo além daqueles traços perfeitos. Suspirou, um suspiro profundo, logo faltou lhe o ar que foi recoberto por uma única lágrima que rodopiou em sua face branca. Aqueles traços perfeitos, como queria que eles estivessem presentes agora, tomou uma xícara nas mãos e levou a até a boca, deixou apenas que tocasse seus lábios não se permitiu tomar nem sequer um gole daquele liquido preto que lembrava apenas o calor que ela um dia transmitira a ele. Tudo fazia o lembrar se dela, a seda das suas camisas finas lembram o toque daquelas mãos delicadas que um dia ele aqueceu, a lua lembrava lhe o brilho daquele olhar singelo que por tantas vezes fitou o com amor, as rosas lembram o cheiro daquela pele macia que por tantas vezes o aqueceu, as margaridas lembravam agora mais do que nunca a palidez que ele vira na véspera.
Sua pequena, a eterna pequena dele havia partido e deixou nele lembranças, a maioria boas, então lembrou se de como seria legal se eles tivessem filhos, se culpou por ser estéril. Mas Deus sabe o que faz, com tanto amor que ele a amara seria um castigo ver os mesmos genes daquela ternura vivos e pior com a mesma dor que ele sentia, a dor da perda. Seria ainda mais doloroso se ele visse sua filha ou filho com um olhar triste, então lembrou se do olhar triste dela quando o médico deu a sentença da esterilidade. Aquele olhar triste que consolou o muitas vezes, apesar de ser o mais abalado, lembrou se de como ela queria ser mãe. Para vê - la feliz ele seria capaz de qualquer coisa. Mas agora já não era mais possível, ela partira para sempre. Ela partira, mas ali continuara sua essência, a essência que ela sempre transmitira, a de um amor simplesmente sem barreira. Um amor que excede os limites da vida. Tentou lembrar - se apenas dos momentos felizes que tiveram e ficou contente por terem sido maioria. O que aconteceria com ele, ele não sabia mas jurou a si mesmo que nunca deixaria que ela morresse dentro de si. Viveria como ela gostaria que ele vivesse, mesmo que isso doesse muito. Em memória do amor de sua vida, amaria sem barreiras e faria tudo para ajudar as pessoas com toda a bondade que era dela. Faria de sua amada seu espelho, tentaria ser feliz e fazer as pessoas felizes através de sua arte. A arte sem barreira através de um amor sem limites.